Segundo pesquisas da professora parintinense, Odinéia Andrade, a Ilha do Cavalo-marinho, localizada no rio Uaicurapá, hoje inóspita e desabitada, em tempos que lá se vão, era de muita fartura. Circulando a ilha, havia uma aba de praia arenosa, muito branquinha. No cimo dessa ilha, uma colina. No centro uma concavidade abrigando um lago de águas cristalinas, contornado por árvores de todo porte e de vários matizes, berço de seres de rara beleza.
A ilha tinha algo de sobrenatural: ótima posição geográfica e cercada por belezas exóticas, onde a diversidade da fauna e da flora mais parecia um paraíso, sob a égide do uirapuru que com sua flauta de cristal, colocava toda a olha aos seus pés.
Nessa ilha morava uma família indígena: marido, mulher e filhos que receberam a posse dela e toda sua fartura das mãos do Moisés tapuio, o deus Jurupari.
No lado de águas cristalinas, a piscosidade era de grande variedade.
De tudo poderiam usufruir, sem, no entanto, depredar. O lago fornecia o peixe, e a mata em sua variedade, os frutos, as flores e a sombra. A caça era abundante e Jurupari, com o fiel da balança nas mãos, recomendou preservar a ilha. ''Se permitirem a devastação ou o uso indevido, tudo aqui será amaldiçoado'', advertiu o legislador.
Um belo dia aportou na ilha uma igarité conduzida por homens de peles tostadas, com remos de faia nas mãos que iam de cá pra lá sempre calados. Risonhos, solícitos, sempre oferecendo em troca de seus interesses, panelas, tecidos, enxadas, eles seduziram os donos da ilha. E, sob a tolda de palha em igarité, mulheres enfeitadas, sorriam. Desfiles de mostras de bugigangas. Sorrisos e mais sorrisos. Alguns presentes.
A família da ilha se ilude, cede e começa a mostrar as belezas dadivosas. Muitas trocas entre eles. Promessas sedutoras levam a pequenez humana a dizimar, assassinar o que de mais belo a ilha possuía: uma natureza pródiga e rica.
Tudo acabou. Tudo silenciou. A ilha ficou deserta.
Segundo a crença do povo, o lago tornou-se habitado apenas por um peixe grande que tem as formas de um cavalo. Recebeu o nome dos vizinhos das redondezas, da época, de Cavalo-marinho. O terreno era de terra, de belo aspecto, mas o terror ao fantástico monstro impediu a sua exploração, o seu desenvolvimento. No verão, quando as praias estão descobertas encontra-se em diferentes pontos, restos de ossos, cabelo, escamas, penas, etc. Os índios dizem que eram fezes lançadas pelo peixe misterioso. A desobediência transformou a ilha em porto solidão, tendo somente o horizonte como companhia.